sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
12/09/91
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
por Victor Bauab
Era, mas era há 2 minutos atrás.
Enquanto fumava meu último
(último?)
cigarro da noite
Me vinha a mente as nossas noites
aqui, nessa mesma sacada
Com as mesmas músicas que oscilam, vascilam, nos confortam, nos marejam os olhos
e são nossas
Aquela velha - ou não - máquina de fotos em que fazíamos poses
ora bizarras, oras genias.
Me veio as confissões
As desilusões e desabafos
Carinhos, afagos
Numa dualidade sentimental
que significam o amor - um amor puro e mais nada.
Me veio até a xana peludinha da FY enquanto tentava me vestir de John Corleone.
Veio o amor que guardo para você.
Por favor, meu amor, minha nêga, minha musa
Faz isso de novo amanhã?
Posso ajoelhar em seus pés
ou te encher de beijos
ou até mesmo atirar dessa mesma sacada que me cobre
Mas vem me dar isso de novo.
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
sábado, 10 de dezembro de 2011
Não. Pela terceira vez.
Não sei qual fora a intenção de perguntar, mas perguntou. Enquanto eu estava cheirando a goró, perguntou se eu queria dançar por ali, no meio de muita gente, dançar arrastando os pés e dançar na ponta dos dedinhos magoados que são meus dedinhos dos pés. Se chegou perguntando por que eu dizia que tinha dormido com os braços enlaçados naquela noite, me indagou dizendo que a dissimulação é uma causa de sofrimento, me indagou – com as mãos no guardanapo azul, fuçando o paliteiro, equilibrando o azeite por cima do paliteiro sem me olhar nos olhos – dizendo que eu deveria ser sincera na maior parte das vezes, pois da sinceridade nasce a lealdade que falece um pouco todos os dias.
Me fez dizer qual era a cor de carro que mais me atraia, somente na intenção de descobrir se eu era mais uma dessas emergentes, ou se eu era aquilo que meus cabelos transpareciam. Eu, por inteira, transparecia um mar de desordens. Transtornos do sono, transtornos bipolares e transtornos byronianos que oscilavam tanto quanto a folha de alface crocante de rolava de um lado para o outro naquele beiço sem saliva. Enquanto as verduras cantarolavam dentro do céu da boca, Janis Joplin sussurrava bem baixo no meu tímpano estourado, compartilhando a angustia de que ela, tanto quanto eu, precisava de um homem que a amasse. Continuou ali, prostrado com as mãos caídas sobre a mesa, com olhos de lince rondando as quatro pontas de uma mesa redonda, pedindo que eu não olhasse seus olhos. Implorou que eu não deixasse cair, implorou por clemência e quase chamou a progenitora afim de que eu tivesse misericórdia. Falhou.
Pediu que eu botasse a cabeça no lugar, mas tudo o que eu conseguia ter em mente era a necessidade brutal de tirar os sapatos, o sutiã e mentir mais um pouco. Eu tinha necessidade de disfarçar a minha imensa vontade de vê-lo caído de quatro na minha frente, despido e desprotegido, pelado, com frio e com fome. Eram desejos sádicos que passeavam de um lado para o outro, do lóbulo frontal para o hemisfério esquerdo, fazendo barulhos de carros de corrida, fazendo ruídos estranhos. Dor de amor. Me doía, me deflorava como uma barragem que rompe um turbilhão de sentimentos dúbios e sofríveis. Por menos que eu quisesse, me tornei uma pessoal sofredora, capaz de fazer sangrar e rir a partir da dor de quem tivesse ao meu lado. Eu queria sentir cheiro de merda, fazia questão de sentir fortemente as agulhas nas veias azuis que me regavam. Porém, ainda estava ali, estaticamente posicionada olhando o movimento de suas mãos naquela toalha de seda preta.
quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
Pães de queijo, frio e um cobrador gentil
Era um cobrador sangue bom. Não sei o nome dele, mas desde o princípio imaginei que pudesse ser Jorge, Jorjão, ou Paulo, Paulão. Pois ele era grande, de pele preta, mas tinha feições infantis. O típico homem capaz de destruir um templo, porem, tão inofensivo quanto eu. Encontrei-o ali no Largo da Batata – lugar horroroso no meio de um bairro bonito. Ficava mais feio e estranho quando olhávamos o Tomi Otaki, edifício medonho e bárbaro que habita o centro de São Paulo. Tomei o ônibus que me deixaria em casa. Sentei ao seu lado, junto com Helena que estava aparentemente cansada, faminta e com muito frio. Fez alguns malabarismos para entrar na cadeirinha que era seu local de trabalho, aquele assento minúsculo e grotesco para um cara daquele porte. Abriu o caixa e retirou de dentro um pacote de bolachas recheadas. “Qué?”, ofereceu aquilo que parecia ser um bom prato para duas damas perdidas num ônibus vazio. Com dor na alma, recusamos o lanche. Duas passarinhas deprimidas, sem água na fonte para tomar um banho quente e cantarolar, piar por aí.
Sua cabeça cambaleava numa filistria permanente de ir para cima e para baixo. O cobrador estava com sono, apesar de aparentar ter entrado a pouco tempo na condução – era visível que acabara de sair do banho, estava ainda perfumado e com a roupa bem passada. O monstrão parecia morar com a mamãe, tinha cara de muleque bem criado em igreja evangélica. Pedimos para que ele gentilmente nos informasse o ponto mais perto da nossa casa e ele afirmou com prioridade que nos diria, pedindo para que ficássemos tranqüilas. E ficamos. Passaram carros, pontos, semáforos, padarias, estacionamentos. Passou por nossa cabeça o suicídio, pois o que mais queríamos na vida era a ternura do lar após um dia cansativo na Praça do Por do Sol. Até o momento em que ele avisou para que descêssemos, deixando-nos no posto de gasolina errado. Eram dois pontos seguidos por postos de gasolinas da mesma corporação. Aquele cobrador infeliz deu uma pista falsa que elevou nossa alma ao maior grau de fúria possível num sábado a noite onde tudo era gélido e com cara de domingo.
Helena precisava mijar. Miramos uma dessas padarias da elite da Zona Oeste e resolvemos, cegas, adentrá-la. Sentimos uma falta incomensurável dos nossos pais quando avistamos aquele vinhos chilenos, portugueses, franceses. Sonhamos por exatos 12 segundos com a riqueza eterna e com a barriga quente de tanta comida burguesa: quatro pães de queijo, quatro salgadinhos de salsicha (que tinham o diâmetro menor que três centímetros cada) e cinco pães franceses. Debito de onze reais: é o preço que se paga por uma mijada. Não enfiamos o rabo entre as pernas, pois não tínhamos um rabo. Mas nossa possível expressão de ódio e indignação foi marcante. “O que? Por que ONZE reais?” Um punhado de emoções dúbias apenas numa volta para casa que não deveria, pela lei de todos os universos possíveis, se sair por onze preciosos reais.