1.
- Por que
viajar custa tão caro?
- Excelente
pergunta.
- Tá
arruinando a minha vida.
- ...
- Talvez um
pouco dramática demais agora.
- É.
2.
Queria pedir
desculpas por ter agido como um animal.
Olhe para
mim.
Ela não
olha...
Ei, olha pra
mim.
(Me desculpe
por não ter controle sobre minhas ações. É porque somos criados assim, você
sabe, e agora, ao tentar resolver o problema que podemos perceber, não
conseguimos. Continuamos sendo animais que pensam com a cabeça do pau. Acho até
que quando aquele cara cabeludo que está lá no canto diz que na verdade ninguém
presta, talvez ele esteja correto)
Não consigo.
Que seja. Já
aprendi a mentir pra mim que não me desprezo.
3.
Por que
continuo aqui, sentado nesta roda, a olhar para estas pessoas? Nos conhecemos
há tanto tempo. São tantas histórias. É... É isso.
É essa a
desculpa.
4.
Você não está
aqui, mas a noite é nítida. Quem sobra, nos arredores, faz tudo errado como que
por instinto. Tudo errado... O barco apanha de ondas e ventos gelados no escuro,
longe de ter rumo (Kostka está morto), e eu, em pé, fico estático, observando
as ondas e os ventos, apaixonado pela fúria mineral do oceano sob a tempestade.
Eu, a olhar o tufão, me sinto pequeno, mas não sou. Não sou, porque meus olhos
não se fecham, meu coração bate mais forte e é por vontade de viver, de correr,
de fugir a nado deste inferno (sinto que conseguiria se tentasse). Não sou
pequeno porque olho para a tempestade e ela olha de volta, porque me conhece.
Fico estático, com desejo de mergulhar no turbilhão do mundo e tornar-me a
própria tempestade. Engolir a todos. Tudo errado. Fico parado a esperar que o
barco vire.
5.
Two men talking:
- I was disappointed he fucked her; thought he would
resist.
- I thought so too, but he resisted more than any
other man ever would.
- With me, all she needed to do was put the wine
bottle on the counter HA.
- I wish I was as badass as Rust.
- Same. What a man.
6.
E você? Se
acha tão inteligente, não é? Sempre tão superior. Essa cara de quem acordou pra
salvar o mundo e antes do horário de almoço foi impedido e frustrado pela
estupidez do resto todo, podre, da humanidade. Tua cara, tua rotina. Sempre tão
único, não é, seu filho da puta? O herói incompreendido. Teria todas as
respostas, se lhe perguntássemos; e sempre acenando – olhem para mim, estou
aqui, perguntem, peçam minha ontológica opinião. O último intelectual, mas tudo
o que faz em relação a uma mulher como eu é encarar, feito um vegetal, nossa
peça teleológica: esta aqui, por onde saem nossas fezes. Encara minha
bunda a babar como um cão velho e doente. Uma rotina tão vã quanto respirar. Como
um cão velho, está cego. Sempre disse pra eu aprender a me expressar, não é?
Pois então, estou me expressando pra você agora. Pode ir tomar no cu.
7.
- Então você
acredita em almas gêmeas?
- Sim.
- Então pra
quê esse martírio? Pra quê, se você sabe que estão destinados a estarem juntos
para sempre?
- Não foi o
que eu disse. Acredito que almas gêmeas existam, e acredito que encontrei a
minha. Só acho que anulei as possibilidades de união. Acredito que isso seja
possível.
8.
Citação:
“...Even then I loved him more than I’d ever loved
anything on Earth. He was stabbing me and I was smothering him. We were killing
everything that deserved to die because it wasn’t as rich as it could be. We were
killing the empty times, and then we’d die with them and wake up and kill them
again until there wasn’t anything left to kill and we’d be alive in a way that
you can never die when you feel like that because you own your life and nothing
can ruin you.” (Marion)
9.
Por que
diabos vocês sempre apontam para o coração? Sempre a falar do maldito coração.
Hoje eu vi a mulher mais bonita do mundo. Eu estava dentro do carro, em
movimento, e ela andava pela calçada, em uma direção oposta; a vi por 3, 4
segundos, e foi meu estômago que parou. Quem era? Nunca a havia visto. O cabelo
curto, os ombros, a cintura, a cor da pele, o modo de andar, um aparente mau
humor - que me interessa -, a postura; que pernas eram aquelas? Senti, como um
acidente, um vazamento ácido, do centro para fora, que revirou, murchando, todas
as flácidas tubulações que imagino por dentro de mim. Devo ter arregalado os
olhos. Meus intestinos perderam a função; eu parei de funcionar, porque (e o costume de dizer isto sim faz sentido) nós somos o que comemos, nós somos as nossas bactérias
intestinais, nós somos o pH, o bolo alimentar, as fibras, os movimentos
peristálticos e animais. Nós somos tão involuntários quanto a fome. Desde
aquele instante, a memória de tê-la visto tem me atormentado durante o dia e
meu estômago é que me diz: eu preciso saber quem ela é, eu me quero dentro dela
e a quero dentro de mim, eu quero ingeri-la e sê-la.