Sendo observada pelos únicos olhos do lugar, Catarina permanecia sentada de frente para o psicanalista fascinada pela pintura posicionada na parede de trás. A falta de cabelos dele refletia a pouca luz do lugar, levando-a a concentrar-se em tudo, menos na analise.
Saiu do consultório, vestiu um casaco e armou-se com seus inseparáveis óculos escuros. Sentia fortes dores no estômago, náuseas infernais e uma imensa falta de ar – o que não era motivo plausível o suficiente para que ela não retirasse um maço de cigarros da bolsa. Acenou para um táxi, sentou-se e delirou ao redor das palavras de Gabriel Garcia Marquez em seu memorável “Memória de minhas putas tristes”. Não tomou nota acerca do transito caótico da capital paulistana, tampouco do menino malabarista que desdobrava-se clamando por um trocado qualquer. Era mais uma vez seu livro preferido quem a completava e tomava toda a atenção de Catarina.
Ao subir as escadas de seu apartamento assombroso, sentiu tudo aquilo que não havia ingerido remoer suas vísceras, esmagando fígado, pulmão e coração, que agora, pulsava acelerado. Não tardou a entrar em casa e esparramar no chão um golfo imundo e fétido. Arrastou-se até a geladeira e embebeu da garrafa alguns densos goles de água fria. Jogou-se nua na cama, flutuou feito uma pena desprovida de forças: lembrou-se de que as regras estavam demasiadamente atrasadas.
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