A
nóia me faz querer parar.
Não
sou contente com o espaço delimitado pela minha pele perante meu conjunto de
células e hormônios e vísceras e pelos denominado corpo. Preciso de expansão,
mas ela não existe.
A
cada tragada a realidade vem brusca, em dilacerante doses cavalares de um excesso
que não compreendo há tempos. Antes, o real do mundo vinha ameno. Agora, é tão
miserando que mal posso suportar meus devaneios que pulsam altos num cérebro
parcialmente derretido e desprovido de memória.
A
nóia me faz querer parar, pois as pessoas que amo sentem-se odiadas por mim.
Por que pensam que sou ríspida e fria. Por que não existe constância aqui: a
única constante é a angústia. Medard Boss tenta me explicar, mas eu me
aborreço. Um emprego de 1.500 paus, férias na Argentina, bolsa de couro de
jacaré. Não me importa. O que me importa é a liberdade (que ainda é pequena
diante da imensidão que procuro no universo e nas almas habitantes dessa enorme
rocha).
Paranóia
não cabe aqui. Preciso comer e vestir. Me proteger do frio. Paranóia causa a
morte em vida, me faz um corpo andante sem voz. Paranóia existe nas vozes
alheias que não acrescentam. Paranóia existe entre os dedos que andam sozinhos.
Paranóia em todo lugar.
A
nóia me faz querer parar. O que há de ser maravilhoso, há de ser real.
A
nóia me faz querer parar.
(Buk
sopra ao meu ouvido: NÃO SOBRA NADA PARA MORRER)
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