Só o que eu estava tentando fazer era não voltar para o quarto de novo. Na
última vez que te vi. Era tudo o que eu não deveria permitir: ser cruel comigo
mesma. E que porra de vida, eu não canso de me maltratar. Naquela última vez em
que te vi. Tive sonhos com uma velha japonesa. Sonhei que você entrava e saia
rápido de mim. Sonhei com meu celular nos pés. E não sabia se seria pior dormir
ou acordar. Não aguentava mais a minha volta e fui procurar a sua. Você foi
solícito, meu coração não aguentou. Fui. Na chuva, doendo. Fui te ver. E tudo o
que não aguento é seu rosto. Todas as vezes em que abri a porta para você,
quase derreti. Você me enche de algo que não sei o nome. Me transborda fácil.
Tento arrancar explicações, enxergar motivos. Mas tudo o que me sobra é um
vazio intermitente. As vezes penso que sou uma leoa muito mais feroz do que eu
mesma sou capaz de aceitar. O que tenho passado vai deixar calos, cicatrizes e
feridas que vão atormentar por algum tempo. Tenho passado muito penosamente por
isso, mas preciso acreditar que vai passar. Nunca tive fé em nada, mas preciso
encontrar a fé dentro de mim. É o que me move. É apenas o que preciso. Sair da
situação deriva. Remar com as duas mãos que tenho. São pequenas, mas aguentam
firme. Só eu sei que sim. Ou não. Vou começar a entender agora. Eu discorro
sobre isso para muitas pessoas. Acredito que elas me entendem, mas isso não me
conforta muito. Logo eu, que sempre reclamei da incompreensão alheia.
Esse
mundo é irônico demais para a minha imaginação. Acho difícil de acompanhar.
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