segunda-feira, 13 de maio de 2013

o primeiro amor da vida de meu pai

Esse sou eu:



Essa, abaixo, é Guita.
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E se Guita pudesse trocar uma só palavra comigo... eu seria o garoto pobre mais rico de São Paulo, ou talvez do mundo, pois era desenhada indomável e meu coração não caberia no peito depois de um sorriso dela.

Naquelas alturas, o que me constituía era um par de sapatos três números maiores que meus pés, meias furadas e uma boina cinza que mal se segurava em meus cabelos rústicos. Fazia entregas na casa de Guita, para sua mãe e avó, porém, trocar olhares com ela não me era permitido. Só conseguia flertar sozinho quando ela aparecia naquela sacada marrom de arte noveau. Ah, que pezinhos delicados tinha meu primeiro amor! Diferente de mim, pobre, fodido, fedido, sujo – pezinhos que calçavam sandálias de couro e meias brancas, vestido bege apaixonante, típico das garotas judias da Oscar Freire. Quando saia, usava um chapéu cor de rosa com uma fita de seda amarrada. Eu me casaria com ela vestida exatamente dessa forma, sem modificar sequer um grampo. Mas Guita não sabia meu nome, tampouco sabia de mim.

Quando comentei com meu primo Irineu que estava amando uma judiazinha, ele riu e pediu para que eu o ajudasse a carregar seu carrinho de brinquedo, um belo carrinho, imitação de um Puma. Mas que mundo besta pra mim. Se não era um diabo, o que era? Não tinha carrinho, nem pai, nem mãe, nem Guita. Só o que tinha era um pião velho, meus sapatos nadantes e uma imaginação brava. 

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