Esse sou eu:
Essa, abaixo, é Guita.
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E se
Guita pudesse trocar uma só palavra comigo... eu seria o garoto pobre mais rico
de São Paulo, ou talvez do mundo, pois era desenhada indomável e meu coração
não caberia no peito depois de um sorriso dela.
Naquelas
alturas, o que me constituía era um par de sapatos três números maiores que meus
pés, meias furadas e uma boina cinza que mal se segurava em meus cabelos
rústicos. Fazia entregas na casa de Guita, para sua mãe e avó, porém, trocar
olhares com ela não me era permitido. Só conseguia flertar sozinho quando ela
aparecia naquela sacada marrom de arte noveau. Ah, que pezinhos delicados tinha
meu primeiro amor! Diferente de mim, pobre, fodido, fedido, sujo – pezinhos que
calçavam sandálias de couro e meias brancas, vestido bege apaixonante, típico
das garotas judias da Oscar Freire. Quando saia, usava um chapéu cor de rosa
com uma fita de seda amarrada. Eu me casaria com ela vestida exatamente dessa
forma, sem modificar sequer um grampo. Mas Guita não sabia meu nome, tampouco
sabia de mim.
Quando
comentei com meu primo Irineu que estava amando uma judiazinha, ele riu e pediu
para que eu o ajudasse a carregar seu carrinho de brinquedo, um belo carrinho,
imitação de um Puma. Mas que mundo besta pra mim. Se não era um diabo, o que
era? Não tinha carrinho, nem pai, nem mãe, nem Guita. Só o que tinha era um
pião velho, meus sapatos nadantes e uma imaginação brava.
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