quinta-feira, 30 de junho de 2011

00:04

só perdi.

mas, com gosto.

alias, algumas eu ganhei...

outras eu perdi...

mas todas justas.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

rabisqueira

agora você paga a lingua
de tanto falar besteira
fica tonta, morrendo aí pelos cantos
pensando em voltar no tempo
perdendo o tempo
que não deveria jogar assim.

agora você fica aí
de rabixo com aqueles outros
saindo de saia
chinelinho
e carente de decência.

fica bem aí, porca
chora mais um pouco
que se Deus quiser
eu beijo os teus pés
dentro de uns dez anos.

domingo, 26 de junho de 2011

para Bibi

A flor que nasce
E morre
Bela
Na pedra,
No mato,
Rasteiro...

E de tanta
Luz
Deleita
A minha

mente.

Que limpida
Faz-se
De espelho
E fica bela

Como a flor
Que nasce
E morre
Bela.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

vinte e quatro do seis

eu vou

continuar assim

com o dedo amarelo

e

com o sorriso

amarelo.

eu vou continuar

aqui

cercando comprimidos:

dormir

é o que cura

a ausência.

estarei

do mesmo lado

quando você

voltar.

estarei com as mesmas

vestes,

as mesmas

maneiras,

as mesmas

torturas.

eu estarei

pra sempre lá

mesmo quando

estiver aqui.

distante.

estarei pensando

na tua vida

pequena

e nada intensa.

estarei contrapondo

a minha grandeza

na sua humildade.

estarei esbarrando

na tua falta

de loucura

que me mata

e me dói.

pois enquanto

eu viva estiver

serei a mesma

com o mesmo dedo amarelo

e o mesmo sorriso

e os mesmos cabelos

e a mesma falta de graça

na minha total

falta de

maleabilidade.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Inverno-Inferno (cont.)

Era maio. Inverno tão frio que, durante o banho, deixava o mijo escorrer-lhe entre as pernas: estreitamente a única coisa quente em seu corpo nu, tremulo. Não era mês para propiciar aquela gélida sensação... São Paulo estava mostrando-se menos acolhedora do que nunca, mais concreta, mais distanciadora. Agora ela passava a chegar em casa e encontrar um imenso vazio. Antes tudo era convidativo, aconchegante e tinha o calor de um respectivo lar. Hoje a televisão encontrava-se no chão, apoiada numa caixa de papelão marrom. Os pratos estavam carentes de armários e com isso recolhiam poeira sobre a única mesa do lugar. Ela repousava no sofá devido aos problemas respiratórios que tanto atormentavam seu sono, afinal, não possuía mais uma cama, apenas um colchão.

Fitou aquela angustia expressa em coisas avulsas distribuídas pelos cantos e sacou a Polaroid que herdou do pai de dentro da caixa de relíquias. Resolveu presentear-se com fotografias daquele inferno por ela vivido. Avida ficava mais bonita com aquelas fotos tonalizadas pelo ar antigo proporcionado pelo equipamento. Cercou o piso com as imagens da sua derrota. Embebeu uma dose de uísque causando desconforto para sua garganta, pois Catarina não se servia com nada alem de vinho tinto seco. Despiu-se. Fotografou a vulva, os seios, os pés, os olhos... espalhou tudo pelo apartamento escuro e após outro gole de um Bucchanan’s ganhado por Ciro, amigo de Alberto, recostou-se numa poltrona suja e, em alfa, descansou.

Iria recordar a sensação daquelas unhas tempos depois. Sentiria o toque de cada digital sobre os pelos cerrados debaixo, até o redor do umbigo, até a sobrancelha protuberante daquela face, que em face da saudade, lembrava-se de fatos ocorridos anos antes. Viria a ser uma daqueles saudosistas, que presos em sua eternidade não esquecem o sofrimento pois posicionam o êxtase acima de qualquer proposta.

Saudoso Benê

de mãos ritmadas
canatavamos
e a vida fez-se triste
e bela.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Hoje

Não estaria plena a ponto de ouvir aquele som denovo. Não me senti confortável ao sentir aquelas digitais denovo. Tampouco ao sentir aquele cheiro.
Como num ritual regrado e cercado de uma mistificação ignorante, sentei e vi o que havia para ser visto. A apatia fez-se completa, meu rosto não expressou sequer admiração e continuei a respirar. Por incrível que pareça, ainda estou viva e posso continuar a viver, comer, andar, falar, mijar e pensar. Eu continuei sendo um corpo, como jamais deveria deixar de ser e como jamais deveria imaginar não ser.
Aqueles três dias na cama me serviram de remédio para a gripe e para que eu me situasse nos fatos ainda pendentes de uma mente insana.
Comprar pão ainda é parte da rotina, fazer café também. Ver os onibus passando cheios "de pernas amarelas", ver as madames e seus bibelôs peludos e ver os bêbados que habitam o bar: tudo isso continuou a existir, como a vida que está aparte em mim agora.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

vit.

sejamos etéreos
e não sejamos nada
nunca.

sábado, 11 de junho de 2011

Continente África

Aqui só tem retalho

Dourado

Vermelho

E verde.

Aqui só tem retalho

De preto

De branco

De gente.

Tem “samba de preto véio

E samba de maracatu”

Aqui tem umbanda

Tem candomblé

Tem Iemanjá

E mainha pra me acompanhá...

Tem gente mostrando

A pintura no olho

Refletindo riqueza

Exaltando a beleza

Desse pedaço de chão

Bebendo o mar

Chamando o povo

Gritando samba,

Sambando o grito

Dos excluídos

Pois “só quem sabe onde é Luanda

Saberá lhe dar valor...”

Aqui tem construção no mato

Tem europeu vislumbrado

Criança rimando

As falas de um cancioneiro

Cor de jambo

Que dança, que sacode o pé ali

Que decanta a África

Explora o batuque

E eleva nosso espirito...

Aqui tem gente que molda a gente

Que bronzeia as nossas areias

Que comove o menino

Que bete bola em Copa,

Que faz malandragem na Tijuca...

“Chegou a hora dessa gente bronzeada

Mostrar seu valor...”

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Inverno-Inferno



“Escrevo quando estou feliz. Mas escrevo belamente apenas no luto.
É com gotas de sangue, suor e lagrimas que eu emociono, quebro expectativas e cativo. No do meio do caos a escrita flui como se falasse no ouvido do leitor... E no olho do furacão as palavras se encaixam, ficam feito tijolinhos numa parede estreita: eles precisam estar milimetricamente posicionados para que nada desabe além da minha tristeza. As palavras devem caber nos olhos de quem as consome sendo a prosa poética de cada dia.”

Pensamento escrito por Catarina num guardanapo bege.
26-06-04



No trabalho tudo estava com deveria estar. Os mares de tormento não batiam mais a porta e o momento criativo daquela eximia professora – que sonhava frustrada em ser escritora – estava correndo rapidamente entre o espaço do pensamento, cérebro, lapidação e mãos sufocando uma caneta sobre um papel qualquer. Seus amigos não compactuavam com o erro por ela cometido, porém, estavam sempre prontos para servir o ombro em respeito ao triste deleite da companheira.

A despeito da sensatez, o artista é mais brilhante quando passa por crises profundas e tortuosas. Essa foi a conclusão da mestra Catarina, que desprendendo-se dos apegos materiais da vida, resolveu viver a angustia e descobrir o quão profundo era o seu poço. Entregou-se num lapso de segundo para um período considerável de sua existencia.