“Você
sabe que é uma praga de mulher. Um diabo.”
Levantou.
Mijou denso. “Merda! Acabou o papel!”
Balançou
o corpo. Chacoalhou a buceta. Subiu a calcinha mesmo sabendo que ainda haviam
gotas pelo meio dos pelos que ela se
recusava a aparar há algum tempo.
“Você
é um diabo mesmo... uma puta sem vergonha!”
Ouvia,
mas dava de ombros enquanto escutava tudo o que poderia escutar numa noite onde
o ódio de Alberto pairava pelo ar como a fumaça de seus charutos fedorentos. Ficava
ali, com as pernas cruzadas, observando o movimento automático de seus pés
ansiosos por saírem correndo daquela sala. Nada poderia ser concluído após
aquela conversa, a não ser a certeza de que mesmo sendo corno de fato, ele ainda
a amava e a perdoaria mil vezes de fosse preciso.
“Você
se arrependeu de chupar o pau dele?”
Ela
levantou os olhos, mas não a cabeça:
“Como
você sabe que eu chupei o pau dele?”
“É
tudo que posso esperar de uma filha da puta malandra feito você, Olivia. Se
arrependeu ou não? Porra!”
Ela
levantou os olhos, mas não a cabeça. Olhando por cima dos óculos de armação vermelha,
respondeu vagarosamente:
“Não.”
Ele
sabia a resposta e se sentiu mais otário após perguntar. Parecia masoquismo da
parte dele, querer esclarecer os motivos que levaram Olivia a trepar três vezes
com um escritor gaucho e careca numa cidade minúscula e quase feudal da Bulgária
– Zlatograd. Pensava que maldita foi a hora em que sua esposa fora chamada
parar participar daquele recital onde os autores aclamados pela critica e
detestados pelo publico se encontraram no mesmo lugar para vomitar todo o lixo
supostamente intelectual que guardam dentro de si. Não quis acompanhá-la e, não
por isso, ela foi coberta pelo corpo de uma bicha gaucha e careca.
Qual
era o problema de Olivia? De onde era proveniente aquele caráter solúvel e
duvidoso? Ele não acreditava que tantos anos eram resultado de falácias
incessantes. Ou pelo menos não queria acreditar naquele momento. Nada seria
capaz de fazê-lo esquecer. Nem um teco, nem três garrafas de uísque, nem todos
os calmantes do mundo.
(...)
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