Há um grau além do qual nenhum ser humano pode suportar uma
emoção e um grau de apatia abaixo do qual não há como descer (a ausência absoluta
do medo só existe para um deus ou para um animal). Entre esses dois limites há
uma gama na qual se pode estabelecer a conduta correta ou média, a
saber, a que nos permite evitar dois tipos de reações estereotipadas. No caso
da raiva, por exemplo, a conduta correta (variável segundo as circunstancias)
estará tão afastada da suscetibilidade extrema que me faz arrebatar à menor
suspeita de ofensa quanto da insensibilidade extrema (ou vileza) que me faria
tolerar palavras ou atos contrários à minha dignidade. Percebe-se assim que o
homem “virtuoso” não é aquele que renunciou às paixões (como seria possível?),
nem o que conseguiu abrandá-las ao máximo. O homem virtuoso ou “bom” é o que
aprimora sua conduta de modo a medir da melhor maneira possível e em todas as
circunstancias quanto de paixão seus atos comportam inevitavelmente.
(...)
Afirmaremos então que as paixões oferecem ao homem a ocasião
de manifestar domínio de si mesmo? Isso não seria exato. O virtuoso não experimenta
a necessidade de dominar-se.
Gerárd Lebrun
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