terça-feira, 10 de março de 2009

10/03


O Alquimista pegou num livro que alguém na caravana tinha trazido. O
volume estava sem capa, mas conseguiu identificar o seu autor: Oscar Wilde.
Enquanto folheava as suas páginas, encontrou uma história sobre Narciso.
O Alquimista conhecia a lenda de Narciso, um belo rapaz que
todos os dias ia contemplar a sua própria beleza num lago. Estava tão
fascinado por si mesmo que certo dia caiu dentro do lago e morreu afogado.
No lugar onde caiu, nasceu uma flor, que chamaram de narciso.
Mas não era assim que Oscar Wilde acabava a história. Ele dizia
que quando Narciso morreu, vieram as Oréiades — deusas do bosque — e
viram o lago transformado, de um lago de água doce, num cântaro de
lágrimas salgadas.
— Por que choras? — perguntaram as Oréiades.
— Choro por Narciso — disse o lago.
— Ah, não nos espanta que chores por Narciso — continuaram elas.
— Afinal de contas, apesar de todas nós sempre corrermos atrás dele pelo
bosque, tu eras o único que tinha a oportunidade de contemplar de perto a
sua beleza.
— Mas Narciso era belo? — perguntou o lago.
Quem mais do que tu poderia saber disso? — responderam, surpresas, as
Oréiades. — Afinal de contas, era nas tuas margens que ele se debruçava
todos os dias.
O lago ficou algum tempo silencioso. Por fim, disse:
— Eu choro por Narciso, mas nunca tinha percebido que Narciso era
belo, choro por Narciso, porque todas as vezes que ele se debruçava sobre as
minhas margens eu podia ver, no fundo dos seus olhos, a minha própria
beleza reflectida.
– Que bela história – disse o Alquimista.


Prologo - O Alquimista - Paulo Coelho