quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Andar com teus pés eu irei até quando for possível.

            Em questão de dias atrás, chuvas que não chegavam em junho, sóis que derramavam desafeto em julho, amores oceânicos em agosto, plenitude eterna desde setembro. Em questão de dias atrás, meses passados rapidamente, horas arrastadas e minutos calculados com sangue de quem sente saudade. Em questão de dias atrás deparei-me com uma brusca mudança de vida. Senti cada célula derreter-se a partir de algo que me faz sentir um parasita que não se cansa de sugar os mais nobres fluídos do corpo mais amável e sublime com o qual já me deparei em sã consciência. Já havia sonhado com muitos corpos, porém, só fui capaz de tocar um deles. O corpo que decidi, certeira, cativa, de uma vez: será meu para sempre. Será nosso, será fruto, será espinho, dor, amor, constância e inconstância. Sinto que sou diabo indigno de olhar teus olhos de bolinha de gude. Sinto que sou um diabo indigno ao sentir o cheiro da tua pele, ao beijar a superfície dela, ao enlaçar minhas pernas nas tuas, ao lamber teus dedos, ao exigir, sem vergonha, “Casa comigo!” Sou vítima desse cruel mundo que nos contorce entre tantas dores, mas, inacreditavelmente, dentro do limbo pelo qual me sinto cercada (e com o qual me identifico, humanidade demais, desejos demais, ganância, falta de fé) encontrei o que parecia ser impossível, pois eu julgava impossível. Hoje sei de que se tratam os escritos de Camões, a tristeza de Nietzsche, a impossível cura para a angústia predominante de Schopenhauer. Se você não me correspondesse, eu deteria de ser um desses diabos incompreendidos. Eu teria que me acostumar com a blasfêmia, com o pó e o fedor mundano. Andar com teus pés eu irei até quando for possível. Gostaria de ser assim, menos humana.