sábado, 12 de setembro de 2009

eu era uma criança que gostava de comer as unhas dos dedos do pé. eu gostava de colocar o dedão na boca, e comer a unha. as unhas das mãos acabavam rápido e cresciam devagar.
fui uma pré adolescente que gostava de pintar quadros de natureza morta e desenhar vestidos. e odiava ingles.
virei uma adolescente descontente, que ouvia rock, usava all star vermelho e comia brigadeiro duas vezes por semana.
comprei meu primeiro sapato de salto alto aos 14. virei vegetariana aos 14 também. usei o salto umas tres vezes. nunca mais comi carne.
hoje sou uma quase adulta diferente de tudo o que já fui. não posso me dar ao luxo de dizer que sou uma fusão de todas as experiencias que tive, por que é mentira.
aos 15 eu começei a amar cinema - eu nunca tinha me dado conta do quanto tudo aquilo é maravilhoso.
aos 16 percebi que eu era uma pessoa politizada e atualizada. me identifiquei com o comunismo e anarquismo (mas ainda compro tenis da nike).
ainda aos 16 me interessei por filosofia, coisa que jamais pensei que pudesse me interessar; ontem acabei me inscrevendo para o vestibular USP 2010 no curso de Filosofia. não vou mentir que eu gostaria de passar, mas o meu maior sonho é ser uma jornalista de sucesso e conseguir deixar um legado cultural e ideologico para o brasil, país que eu amo, apesar de dizer algumas besteiras sobre ele por aí.

atualmente, com 17 anos, me dei conta de que eu não sou - e nunca serei - uma mulher sexy. jamais terei perna dura e bunda erguida. desde os 10 eu não uso mini saia... só uso regata pra dormir. e salto? nossa...
eu nuca me olharei no espelho e pensarei "uau! geral vai querer me pegar hoje. sou gostosa pra caramba!"
meu cabelo vai ser sempre essa loucura. meu quadril vai ser largo até a minha morte. logo eu, que não vou usar a bunda pra nada além de... ah, esquece.

eu me dei conta também de que eu não tenho paciencia e nem vocação para cuidar dos outros. até uns dias atrás eu amava os meus cachorros, mas percebi que eu ODEIO coisa que não pensa. percebi que eu odeio coco, odeio esquentar leite, odeio choro.
(conclui-se que eu não quero ter filhos. já dizia Vinicius: "filhos são o demo")
de fato, eu nasci para cuidar de mim.

percebi que eu nunca terei muitos amigos, afinal, ninguém tem obrigação de aturar os meus desaforos e instabilidades.
e também, eu falo verdades demais para ter amigos. assim como eu, as pessoas gostam de algumas mentiras confortáveis. o problema? eu minto muito bem. e falo a verdade de forma melhor ainda...

eu achava que sabia lidar bem com as diferenças, mas até hoje eu chamo de burras as pessoas que ouvem sertanejo, ou que acham que "ps: eu te amo" é o melhor filme do mundo.
até hoje eu falo que odeio crente. resumo: lido em partes de maneira agradavel com as diferenças.

se me perguntarem o que eu quero mudar em tudo isso? muita coisa...
se me perguntarem se eu tenho coragem para mudar tudo isso? Não tenho.
eu acho que consegui armazenar boas idéias e teses demais para acabar com tudo. se eu disser que não me acho inteligente estarei sendo falsa. eu me acho inteligente. depende de como cada um avalia a inteligência.
no meu caso, os caras que sabem fazer expressão algébrica, não passam de uns burros.
(não sei lidar com as diferenças, é verdade.)

enfim: dou um grande valor a mim mesma, e adoro que me valorizem. eu me acho super interessante e também uma pessoa magnífica.
mas "eu quero sempre mais de mim".