segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Desconheço

Porra louca.

Intensamente sensível.

Mas, porra louca...

Errante freqüente,

Dramática e doente.

Vim me desdizer,

Pois de mais ninguém posso fazê-lo

Pela legitimidade do fato que alego:

Só me conheço a eu e a mim mesma.

Mas de minha doença

Não posso falar sequer um verbo

Uma vez que não a conheço

E mais que isso:

Desconheço.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Náusea

Me causaste tanta dor que a náusea foi irremediável. A dor, anteriormente metafísica, era agora sentina na superfície da minha carne, na região abdominal, no tórax e no rosto, pois apesar de todo o esforço brutal, não consegui derramar sequer uma lagrima. Incrivelmente, eu não consegui derramar as malditas lágrimas. Mas o esgotamento que você fez ocorrer me deixou por alguns segundos com a garganta fechada, gelada e quente ao mesmo tempo. Ficou dolorida, como se as palavras que eu havia de dizer fossem espinhos a sair da minha boca para profanar tua existência.

Todo esse enjôo, esse mal estar funesto e esse drama sem vertente, me fizeram constatar que você tem um caráter solúvel. Nunca me permiti estar em nenhum tipo de relacionamento com individuos de caráter solúvel. Minhas amigas do colégio, por mais putanas que fossem, ainda tinham algum tipo de principio oculto no âmago de suas vaginas. Mas, você demonstrou que só tem resíduos de humanidade correndo no sangue. Resíduos: não mais que isso.

Quando me deitei na cama e acendi o abajour, senti que ela capaz de golfar no seu rosto. Senti que se a sua figura aparecesse repentinamente em frente a mim, eu era capaz de sujar sua roupa com o meu asco perante as suas atitudes. Senti minha pele mergulhar no esgoto conforme eu remoia aquelas cenas, aqueles gestos e aquelas vulneráveis palavras – provenientes do seu vulnerável vocabulário que sempre se encabula diante de mim. Meus olhos estavam estaticamente estalados enquanto eu olhava para o teto vazio. Com as mãos cruzadas sobre a pança, em posição de defunta, eu esperava as indagações passarem uma a uma rapidamente pelo meu cérebro derretido.

Por mais que eu me sentasse aos pés do meu leito e rogasse aos céus que o choro viesse, eu não consegui molhar o rosto. Nenhuma vez, de nenhuma maneira. A minha podridão ainda não foi expelida e continua a rondar minhas vísceras. Você transformou uma dor transcendente numa dor carnal. Egoísta que foi, me roubou o direito de soluçar.