terça-feira, 4 de setembro de 2012

Paranóia


A nóia me faz querer parar.  

Não sou contente com o espaço delimitado pela minha pele perante meu conjunto de células e hormônios e vísceras e pelos denominado corpo. Preciso de expansão, mas ela não existe.

A cada tragada a realidade vem brusca, em dilacerante doses cavalares de um excesso que não compreendo há tempos. Antes, o real do mundo vinha ameno. Agora, é tão miserando que mal posso suportar meus devaneios que pulsam altos num cérebro parcialmente derretido e desprovido de memória.

A nóia me faz querer parar, pois as pessoas que amo sentem-se odiadas por mim. Por que pensam que sou ríspida e fria. Por que não existe constância aqui: a única constante é a angústia. Medard Boss tenta me explicar, mas eu me aborreço. Um emprego de 1.500 paus, férias na Argentina, bolsa de couro de jacaré. Não me importa. O que me importa é a liberdade (que ainda é pequena diante da imensidão que procuro no universo e nas almas habitantes dessa enorme rocha).

Paranóia não cabe aqui. Preciso comer e vestir. Me proteger do frio. Paranóia causa a morte em vida, me faz um corpo andante sem voz. Paranóia existe nas vozes alheias que não acrescentam. Paranóia existe entre os dedos que andam sozinhos. Paranóia em todo lugar.

A nóia me faz querer parar. O que há de ser maravilhoso, há de ser real.

A nóia me faz querer parar.



(Buk sopra ao meu ouvido: NÃO SOBRA NADA PARA MORRER)