quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Delírios de uma rapariga (nem tão rapariga assim) na crise do feminismo pós moderno.

Eu não queria começar um texto com aquele questionamento infame e demasiado clichê "Ser ou não ser?"
Já não aguento mais essa perguntinha e o que me desagrada, então, é o fato de que ela rege a nossa vida. Aí fode, meu querido.
Ser uma mulher bem sucedida e livre, ou não ser? Ser uma exímia leitora de poemas russos, ou não ser? Ser uma aspirante a intelectual aos dezoito, ou não ser?
Não ser uma mulher de bunda grande e redonda, ou ser? Não ser uma mulher com peitos saltando para fora do decote, ou ser? Não ser uma mulher que acha bonito gostar de música sertaneja chiclete, ou ser?
Qual vai ser a minha? Enlouqueci, ou enlouquecerei?
As vezes eu penso que a nossa essência - digo, a essência de nós, MULHERES - é formada através dos atributos que a natureza nos dá. Mulher quando é muito gostosa ganha dinheiro subornando homem quando balança a nádega direita para o lado esquerdo. Não me chame de preconceituosa, mas acontece. Na maioria dos casos. E quando não, aquela Venus, maravilhosa, com peito duro, coxa bronzeada e cabelo até a cintura (que lê Camus e curte ouvir Chopin) é chamada de mulher objeto ao usar um biquininho rosa na praia.
Acho que as mulheres como eu, além de não dotarem de um corpo escultural e sedutor, privam-se disso com medo de serem confundidas com as "Lucianas Gimenes" do nosso Brasil varonil. Sim, eu tenho medo de ser confudida com uma burra, pedaço de carne escroto.
EU NÃO SOU UM PEDAÇO DE CARNE ESCROTO.
Aí chega a problemada toda: quero sair e chamar o primeiro humano com penis - e que não seja gay - que eu enxergar na frente, leva-lo pra algum lugar e fazer com que ele entre em mim: não consigo. Porra, cara, eu não consigo. Tá vendo por que? Por que eu falo porra, uso camisa e falo do modo correto, como manda o figurino.
Não sei as musicas do Luan Santana e não curto filme de comédia americana.
Nem um homem pra me comer eu consigo.
Eles acham que eu quero intimida-los: EU NÃO QUERO. Pode só me comer e ir embora? Eu não ligo, verdadeiramente... Não ligo! Você também só está afim de uma trepada e uma ducha que eu sei... Então, por que pensar que eu quero falar de Tolstoi com você? Só por que eu sei falar de Tolstoi?
E agora, chega o outro problema: quando ele fizer o serviço e depois abrir a boca para falar comigo, vai perceber que eu sou mais inteligente que ele. É lógico que vai... Eu vou falar o português correto, pedir para ele tomar um banho, rachar a conta do motel e quando eu estiver procurando um creme de mãos na minha bolsa, vai cair um pocket de poemas do Maiakovski - que ele não vai conseguir ler o nome: ele faz parte da massa que compra livro de auto-ajuda e não sabe russo.
OU
Se quando ele terminar o serviço, eu não abrir a minha boca, deixar que ele se vista e me de um beijo apenas, não tocar no assunto sobre a conta do quarto e der meu telefone em seguida: ele vai dizer "comi uma louca lá, ela é gostosa, mas..."
Homem é um problema. Ser uma mulher "pra frentex" é um problema maior ainda. As vezes a sociedade confunde as coisas. As vezes mulheres como eu entram num conflito existencial e piram! Igualzinho eu estou pirando agora...
Nota: a ultima estrofe do poema abaixo é a descrição do meu amigo Hugo Giazzi Senhorini. E tenho dito.
Lá quando em mim perder a humanidade
Mais um daqueles que não fazem falta,
Verbi-gratia - o teólogo, o peralta,
Algum duque, ou marquês, ou conde, ou frade;

Não quero funeral comunidade,
Que engrole sub-venites em voz alta;
Pingados gatarrões, gente de malta,
Eu também vos dispenso a caridade;

Mas, quando ferrugenta enxada idosa
Sepulcro me cavar em ermo outeiro,
Lavre-me este epitáfio mão piedosa:

''Aqui dorme Bocage, o putanheiro;
Passou vida folgada e milagrosa;
Comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro.''


Bocage só pra quem curte flw