sábado, 25 de setembro de 2010

Nota: abaixo, um dos fragmentos mais bonitos de poesia eu eu já li.

"(...)
poeta é quem vê
o que não é de dizer
e ainda assim

diz."

Alice Ruiz in Um Olhar

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

O inferno é a vida.

Eu não quero aqui afundar minhas lamurias constantes em explicações distantes da vida de vocês. Quero dizer como sinto e como penso diante desse meu descontentamento estável e imutável.
Não aguento mais a situação atual de projetar a felicidade em situações futuras: a vida fica parecendo um devaneio impossível, que foge do meu controle todas as vezes que levanto minha cabeça do travesseiro em que durmo.
Não suporto mais saber o que sei. Saber a verdade dos fatos das pessoas que me cercam e ser crua em demasia. É descontentamento demais. Já não consigo sequer tentar entender aqueles que dizem amar a verdade - não sabem o sofrimento que estão buscando através desse pensamento medíocre.
Uma vez pensei que só os ignorantes eram felizes. Pensei novamente e achei equivocada essa proposta. Hoje, penso que é verdade: não é de todo ruim ser ignorante, aspirar pouco. Quem muito deseja, quem muito constrói corre riscos maiores de obter perdas gigantes.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Delírios de uma rapariga (nem tão rapariga assim) na crise do feminismo pós moderno.

Eu não queria começar um texto com aquele questionamento infame e demasiado clichê "Ser ou não ser?"
Já não aguento mais essa perguntinha e o que me desagrada, então, é o fato de que ela rege a nossa vida. Aí fode, meu querido.
Ser uma mulher bem sucedida e livre, ou não ser? Ser uma exímia leitora de poemas russos, ou não ser? Ser uma aspirante a intelectual aos dezoito, ou não ser?
Não ser uma mulher de bunda grande e redonda, ou ser? Não ser uma mulher com peitos saltando para fora do decote, ou ser? Não ser uma mulher que acha bonito gostar de música sertaneja chiclete, ou ser?
Qual vai ser a minha? Enlouqueci, ou enlouquecerei?
As vezes eu penso que a nossa essência - digo, a essência de nós, MULHERES - é formada através dos atributos que a natureza nos dá. Mulher quando é muito gostosa ganha dinheiro subornando homem quando balança a nádega direita para o lado esquerdo. Não me chame de preconceituosa, mas acontece. Na maioria dos casos. E quando não, aquela Venus, maravilhosa, com peito duro, coxa bronzeada e cabelo até a cintura (que lê Camus e curte ouvir Chopin) é chamada de mulher objeto ao usar um biquininho rosa na praia.
Acho que as mulheres como eu, além de não dotarem de um corpo escultural e sedutor, privam-se disso com medo de serem confundidas com as "Lucianas Gimenes" do nosso Brasil varonil. Sim, eu tenho medo de ser confudida com uma burra, pedaço de carne escroto.
EU NÃO SOU UM PEDAÇO DE CARNE ESCROTO.
Aí chega a problemada toda: quero sair e chamar o primeiro humano com penis - e que não seja gay - que eu enxergar na frente, leva-lo pra algum lugar e fazer com que ele entre em mim: não consigo. Porra, cara, eu não consigo. Tá vendo por que? Por que eu falo porra, uso camisa e falo do modo correto, como manda o figurino.
Não sei as musicas do Luan Santana e não curto filme de comédia americana.
Nem um homem pra me comer eu consigo.
Eles acham que eu quero intimida-los: EU NÃO QUERO. Pode só me comer e ir embora? Eu não ligo, verdadeiramente... Não ligo! Você também só está afim de uma trepada e uma ducha que eu sei... Então, por que pensar que eu quero falar de Tolstoi com você? Só por que eu sei falar de Tolstoi?
E agora, chega o outro problema: quando ele fizer o serviço e depois abrir a boca para falar comigo, vai perceber que eu sou mais inteligente que ele. É lógico que vai... Eu vou falar o português correto, pedir para ele tomar um banho, rachar a conta do motel e quando eu estiver procurando um creme de mãos na minha bolsa, vai cair um pocket de poemas do Maiakovski - que ele não vai conseguir ler o nome: ele faz parte da massa que compra livro de auto-ajuda e não sabe russo.
OU
Se quando ele terminar o serviço, eu não abrir a minha boca, deixar que ele se vista e me de um beijo apenas, não tocar no assunto sobre a conta do quarto e der meu telefone em seguida: ele vai dizer "comi uma louca lá, ela é gostosa, mas..."
Homem é um problema. Ser uma mulher "pra frentex" é um problema maior ainda. As vezes a sociedade confunde as coisas. As vezes mulheres como eu entram num conflito existencial e piram! Igualzinho eu estou pirando agora...
Nota: a ultima estrofe do poema abaixo é a descrição do meu amigo Hugo Giazzi Senhorini. E tenho dito.
Lá quando em mim perder a humanidade
Mais um daqueles que não fazem falta,
Verbi-gratia - o teólogo, o peralta,
Algum duque, ou marquês, ou conde, ou frade;

Não quero funeral comunidade,
Que engrole sub-venites em voz alta;
Pingados gatarrões, gente de malta,
Eu também vos dispenso a caridade;

Mas, quando ferrugenta enxada idosa
Sepulcro me cavar em ermo outeiro,
Lavre-me este epitáfio mão piedosa:

''Aqui dorme Bocage, o putanheiro;
Passou vida folgada e milagrosa;
Comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro.''


Bocage só pra quem curte flw

terça-feira, 21 de setembro de 2010

"(...) quase me mata, e se não mata fere."
as vezes a força parece que escorre do meu corpo, pinga no chão e me faz escorregar na vida.
eu estou ficando fraca, magra de tristeza e desnutrida de amparo. não quero que as pessoas sofram com as consequencias do meu desespero, mas as vezes eu não vejo saída.
as idéias mirabolantes tomam a minha cabeça e roubam a minha razão. me deixam desprotegida e desarmada contra os golpes da vida. os golpes covardes que as pessoas causam sem querer.
desde muito tempo eu não tenho nada que me deixe significativamente feliz: eu não consigo rir e por incrível que pareça, já não consigo mais chorar.
"Não fui, na infância,
como os outros
e nunca vi como os outros viam.
Minhas paixões eu não podia
tirar das fontes igual à deles;
e era outro o canto,
que acordava
o coração de alegria
Tudo o que amei, amei sozinho."

Edgar Allan Poe
"Não acabarão nunca com o amor,
nem as rusgas,
nem a distância.
Está provado,
pensado,
verificado.
Aqui levanto soleneminha estrofe de mil dedos
e faço o juramento:
Amo
firme,
fiel
e verdadeiramente."

Maiakovski in "Dedução"

terça-feira, 7 de setembro de 2010

era como se a gente fosse análogo a um tipo de rock n' roll. aquele que é sujo, gritado, suado, clássico, sem cor. preto no branco.
nós dois somos o preto no branco. o meu amor por você é a verdade nua e crua, é aquela coisa que não faz nenhum sentido, mas que faz todo o sofrimento vir a tona quando a ausência fica marcada no cotidiano de uma alma sozinha, esperando... esperando...
é revoltante ver como nós somos um do outro. é um molde perfeito. o teu olho cabe no meu e parece me matar cada vez que me intimida. cada vez que queima a minha vista desprotegida com toda essa vermelhidão linda, que me apaixonada a cada dia mais.
eu faço da minha vida a tua se for preciso. eu não me importo em sangrar por você... eu já não me importo mais... já esgotei tudo o que eu poderia perder desde quando te vi pela primeira vez. já sabia que você seria meu e que essa batalha com a vida seria sufocante.
amo tanto que não sei mais esperar. amo tanto que não aguento mais viver sem ver. afinal "o único motivo razoável para seu sumiço seria você estar morto."

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

persona1: eu sou bissexual, gosto de homem e de pau.
persona2: eu sou bissexual, gosto de mulher e de buceta.
persona1: ão ão ão, meu forte é a rima.
persona1: UAHEUAHEUAHUEHAUEA
persona2: AUUEHAUHEHAEEAUHEUHAEUA BOA
persona2: vi o bento gonçalvez no tropa de elite ontem.
persona1: que?
persona2: o bento, colega da dani.
persona2: vinho de morango.
persona1: AQUELE É O BENTO RIBEIRO.
persona1: bento gonçalvez é o da revolução farroupilha!
persona2: troquei os nomes
persona2: KEKEKEKEKEKEKEKE
persona1: KEKEKEKE, WTF?
persona2: risada escandalosa, KEKEKEKEKE

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

No Onibus:

A velha acena para o motorista pedindo que ele pare e a deixe entrar. Está com um vestido verde de flores vermelhas. Insólito. Carrega uma sacola de supermercado e um banco de metal desmontável.
- Pera aí seu motorista que eu to quesse banquinho aqui que é por causa que eles tiraro o banco aqui do ponto - respiração, recebe o troco, deixa o banco cair causando muito barulho - ô droga de banco! um minutinho só seu motorista é que o banco caiu aqui essa droga de banco caiu...
O motorista não parecia nervoso, fez um expressao com o rosto de que não havia problema. Certamente ele pensava "coitada, é velha...".
- Pronto, agora tá pronto viu. Brigado viu seu motorista. - olha pelo corredor no onibus e não enxerga nenhum lugar disponivel mais ao fundo - acho que vo sentar aqui do seu lado viu meu senhor cê me perdoa desse banco aqui é que eu não posso fica dipé nesse sol que eu até vumito. Eu passo mal e até vumito nesse sol.
- É, o sol tá quente... - responde o homen mecanicamente.
- É tá quente viu tá impossívi.
O motorista segue o trajeto e anda cerca de seis quarteirões, quando pergunta:
- A senhora já morou em sítio?
- Eu?
- É.
- Eu já morei nim sitio sim tinha que trabalha o dia intero nesse sol quente. Culpa disso que eu não consigo mais fica dipé nesse sol muito quente aí eu carrego esse banco aqui.
- A senhora já tirou leite de vaca? - o motorista pergunta em interesse algum no que a velha havia dito.
- Eu tirava leite de vaca, carpia os... - foi interrompida por uma colocação do motorista:
- No sitio as pessoa também usa um banco. Só que é amarrado na bunda, pra tirá leite da vaca.

isso é a realidade do Brasil: politico andando de jato particular e uma velha que anda carregando um banco por que não existe mais assento no ponto de onibus.