sábado, 30 de abril de 2011

Ay, ay, ay!

dor no pé
dor na cabeça
dor na dignidade

para resolver?
ajeitar a vida
encontrar a felicidade:

vem aqui em casa
vamos tomar um chocolate
quente
e assistir a centopéia humana
toda maluca
centopeiando na gente
fazendo a loucura condensar
no ar do meu lar

uai, rimou!

vem aqui em casa
vamos botar um incenso
pra cheirar a atmosfera
e ouvir um Jorge
cheio de alegrias
e flores
e chuvas
e Charles
e verão
nesse pais tropical
chamado São Paulo
onde mesmo num dia de sol,
o cinza imundo
invade as frestas
das janelas
desse apartamento velho

e reflete
na foto
dos Beatles.

Chica da...
Chica da...
Chica da Silva!

(e seu lago artificial)

sexta-feira, 29 de abril de 2011

COMUMENTE É ASSIM

Cada um ao nascer
traz sua dose de amor,
mas os empregos,
o dinheiro,
tudo isso,
nos resseca o solo do coração.
Sobre o coração levamos o corpo,
sobre o corpo a camisa,
mas isto é pouco.
Alguém
imbecilmente
inventou os punhos
e sobre os peitos
fez correr o amido de engomar.
Quando velhos se arrependem.
A mulher se pinta.
O homem faz ginástica
pelo sistema Muller.
Mas é tarde.
A pele enche-se de rugas.
O amor floresce,
floresce,
e depois desfolha.

- Vladimir Maiakóvski

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Silvia

Iria refletir sobre os estragos causados por aquela moreninha anos após a turbulência. Jamais pensaria que tão insignificante ser pudesse deixar cicatrizes fétidas e doloridas a esse ponto...

Lembrava-se dos pés dela junto aos dele naquela noite, gelando as unhas do homem, furtando qualquer privacidade existente naquele recinto anteriormente. As cobertas não pertenciam mais a uma só pessoa; a vista da janela, agora era propriedade dela.

Passou a sair nua do quarto para a cozinha, passou a deixar a porta aberta durante o banho, passou a comer com mil talheres - como num banquete sofisticado, coisa francesa ou algo do tipo - as entranhas do velho desprotegido. Ela fez da vida daquele ser algo infernal, repleto de pó, areia no olho, calor, suor e pesadelos. Era o diabo em forma de menina: de pele lisa, de cheiro de mulher gostosa.

Na cabeça moribunda, perpetuava o som de uma furadeira ensurdecedora. Perpetuava o barulho caótico e inconstante da cidade. Perpetuava acima de tudo a dor.

Ele sentava-se em seu local de trabalho, exercia os ofícios com singular destreza, usando a ponta dos dedos para tocar a superfície daquela maquina, deslizando pelos relevos nada íngremes de um teclado, elevando os olhos ao brilho ofuscante de uma tela de computador. Partiu da ideia de que não era mais capaz de levar a vida longe daquela garota, a morena de cabelos alongados e inescrupulosos. Pensava naquele bicho, naquele verdadeiro demonio, vestida para ele. Pensava que Silvia jamais seria sua propriedade e enlouquecia.

Aos poucos aquele velho de bigode enlouquecia.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Alberta

eu não precisei
de nada...
de dinheiro, eu não precisei.
de carro, eu não precisei.

tomei por conta uma jaqueta,
um isqueiro,
um cartão,
e a minha emoção.

não precisei de você
para sorrir nessa noite
nem precisei ouvir
o que deveria...

não precisei de juízo
não quis abrir os olhos
para a tua vidinha
só recebi a noitinha fria

de braços e olhos
arregalados.

precisei de uma mão
para segurar dois copos.
precisei da mão alheia
para me abrir a porta.

precisei de bons ouvidos
para sentir o som
negro, funk, jazz
rondando meu cérebro

efeito mais profundo
do que qualquer droga
que você exige
para a sua vidinha.

nem de poesia eu fiz questão
pois a que me interessava
estava no ar
solta, cheirando a bueiro

na noite de São Paulo...

segunda-feira, 25 de abril de 2011

madre y padre

volta para a tua casa, filha
volta para o teu lugar
vem segurar teu mundo
com as mãozinhas frágeis,
filha

vem conhecer aqui, filha
onde é tua vida de verdade
esquece o hoje,
lembra-te de ontem,
filha

volta para a tua casa, filha
vem, que a comida está na mesa
quente, feita por quem te ama
fica envolta de mim,
filha

vem viver aqui, filha
olhar aqui, mais perto
saber o que sabemos
larga da loucura,
filha

volta para a tua casa, filha
vem morar com quem te ama
vem sentir o amor de quem te acolhe
vem olhar aqui, mais perto
filha...

domingo, 24 de abril de 2011

porquinho

eu não sei
amar de uma vez
só, um homem


eu não sei amar
de uma vez
só,
um homem só

eu não
sei amar
de uma vez só,
um homem só

eu preciso amar
três homens de uma vez
para crer
que amo três

eu preciso
amar três
homens de uma vez
para crer que amo três

eu preciso amar três homens
para saber de uma vez
que eu não amo um
que eu amo dois
mais do que três
e que eu amo três
mais do que um
e para saber além
que eu amo sem saber amar
que eu crio expectativas
que eu desmonto a mente
e que eu não amo três
que eu acho que amo um
mas que eu preciso
amar três homens
pois eu não sei
nunca saberei
amar somente um homem

flor de sal

pai
mãe
filho
filha

vercillo no som
schopenhauer na mente
minha dor de dente
e um corte no cuore

as taças com vinho
de água meio cheias
de vida meio vazias
de alegria...

um espirro de velho
uma véia bebada
uma piveta pelada
um garçom tarado

uma porta bateu
um cadeirante cedeu
a luz encolheu
e o peido fedeu

mais que coisa linda
era aquela menina
xadrezinha
bonitinha
princesinha

inha inha

princesinha
do papai
da mamãe
do titio

bonitinha
inha inha

e a burguesia continua podre.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

dramalhão danado.

E aqui eu fico, pensativo e triste, tentando resgatar os pedaços da tua vida. Fico como se a sensatez fosse algo inexistente, como se nada fizesse sentido enquanto minha mente pode ser sã.
Preciso contar que a tua importância roubou descaradamente um espaço irrecuperável nos meus dias. Preciso contar gritando, para que você ouça pelo menos por um segundo.
Preciso contar que os livros não fazem mais sentido: a única coisa capaz de acalmar minha mente é tua voz ao meu lado. Enquanto o teu calor puder envolver o meu redor, estarei tranquilo, sem nenhuma inquietação.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

21/04/11 e muito amor (plantônico)

Me apaixonei pelos teus olhinhos

Que de tão serenos, eram lindos

Miúdos, espremidos

Que me fizeram pensar em mil coisas

Só de olhá-los...

Me apaixonei pelas tuas mãos

Essas que são pequenas,

Que falam sozinhas

Que acompanham a musica da tua voz

Só de senti-las...

Me apaixonei pela tua vida

Por você inteiro,

Pela tua astucia,

Pelo teu rigor,

Tão perfeito...

Todo perfeitinho

Falando baixinho

Relando em meus braços,

Relando em meus pelinhos

Em meus cabelinhos dourados...

Me explicando a vida

Ouvindo minhas lamurias

Me olhando assim

Me falando assim

Me deixando assim...

quarta-feira, 20 de abril de 2011

SENHAS

Eu não gosto do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto dos bons modos
Não gosto

Eu aguento até rigores
Eu não tenho pena dos traídos
Eu hospedo infratores e banidos
Eu respeito conveniências
Eu não ligo pra conchavos
Eu suporto aparências
Eu não gosto de maus tratos

Eu aguento até os modernos
E seus segundos cadernos
Eu aguento até os caretas
E suas verdades perfeitas

Eu aguento até os estetas
Eu não julgo competência
Eu não ligo pra etiqueta
Eu aplaudo rebeldias
Eu respeito tiranias
E compreendo piedades
Eu não condeno mentiras
Eu não condeno vaidades

O que eu não gosto é do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Não, não gosto dos bons modos
Não gosto

Eu gosto dos que têm fome
Dos que morrem de vontade
Dos que secam de desejo
Dos que ardem...

terça-feira, 19 de abril de 2011

Pornô

e eu te pergunto:
que que é?
esse cigarro na mão,
esse dedo amarelo,
esse cheiro de sexo...

e eu te atormento:
que que é?
essa rotina paralela,
esse bilhetinho no chão,
e esse puta cheiro de sexo...

e eu te indago:
qual foi?
vai ser essa de ontem,
a brisa futura,
ou a dor de amanhã?

e eu te censuro:
como faz?
essa brincadeira tola,
esse casinho a três,
essa lorota estrelar...

e eu te pergunto denovo:
que que é?
vai querer,
vai embrulhar,
ou vai comer?

domingo, 17 de abril de 2011

(...)

Situações que me fogem ao controle deixam-me diabolicamente intrigado. Ao contrario disso, considero-me um homem hedonista. Na verdade, sou um homem hedonista quase por completo, pois amo o meu trabalho, mas horas sinto vontade de larga-lo. Não sou do tipo que gosta de acordar cedo e ter horários ao longo do dia. Chega a ser torturante e desfacelante aos meus olhos.

Minha vida poderia ser chamada de “boemia” por muitos e talvez, de fato, seja. A questão é que não sou um boêmio por que quis assim. Os lances da vida me fizeram assim. As circunstancias me enganaram as vezes, e deste modo, decidi seguir sozinho a minha historia.

Olho-me no espelho, e nada mais vejo senão as rugas que agora estão protuberantes na região superior de meu rosto. Meus olhos ainda são cinzas e tristes como a vinte anos atrás. Meu cabelo continua a cair, e adquiri uma barba que me deixou com aspecto de velho. Meu sorriso, outrora constante, hoje está em tom amarelado, como as areias de um deserto sob um sol escaldante. Entre tantos cigarros, não obtive nenhum beneficio. Apenas consegui amarelar-me a boca.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

"Vejo daqui, você de óculos escuros
Vejos por trás, um imenso mundo
Te vejo assim, calado e quieto
Um pouco mudo...

Querendo encontrar toda beleza que me dá

O seu olhar, tão fácil assim
Me deu o que falar
E ao mesmo tempo
Tirou a palavra de mim


E assim que eu te vejo
Vou descobrindo o seu mundo
Tentando um jeito meio tolo
De trazer você pra mim..."

P, 14/04/11

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Aqui essa imensa janela
E por fora dela, ventos
sssssssssssssssssssssss
Que de fortes e tão frios
Provam que o inferno é aqui.

Aqui.


Aqui.



Aqui.

Mas embaixo do cobertor
Tudo é quente
Acalenta e aconchega
O amor que o corpo sente.

Hoje você vai embora
Me deixa como havia de deixar
Mas a minha vida está mal
Desacostumou de não te ouvir dormir,
Beirou a loucura
Expulsou a sanidade
Feriu-se pela tua ausência.

Au

sên

...


-Tê, 13/04/11

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Na escuridão a vida chama a gente

O perigo vira brilho no olho

De qualquer criança mal acostumada

Com as necessidades da vida.

E a noite foi um bebe em crise

No auge de sua áurea infantil

Chorou hoje e chorou sempre

Chora todas as noites, vive descontente...

Os males daquela noite clamavam

Por mais álcool, por mais drogas

Por menos vícios e menos jogos

E clamavam para a felicidade

De um grupo de amigos num forno

De intensidade, felicidade

Musica do ar, amor jogado

E a vida fez-se bela...



- Tê, Circo

11/04/11

segunda-feira, 11 de abril de 2011

"Se no canto do seu rodapé
minha notinha estiver
toda simples e cheia de intenção
pode estar avisada
sem medo, sem besteira
aquilo vale em toda direção

(...)

Quando venho e penso
sento e já não sou o mesmo
foge, atormenta e se esquece
a palavra.

Pesada e simples: perigosa
vem voando e volta
para onde, nunca se sabe
e quando fica é lucro
forma a prosa, poesia
de que se gosta."

P, 11/04/11

suor, luzes e poesia.