domingo, 10 de julho de 2011

Eu e meus olhos de criança

Se eu estiver gelada
Vou procurar esquecer descrever
Minha carência de afago
E com todo o esforço
Vou me lembrar de quando a vida era boa
Quando eu passava as tardes atoa
No colo da minha avó,
Nos braços do meu papai
E entre a barra da saia da minha mãe.

Vou incessantemente recordar
De quando o amanhecer era lindo
De quando os cães já não latiam
E o meu despertar era ao som de pássaros
Nos pés de primavera do meu quintal.

Vou procurar regar as imagens
Com agua de flor de laranjeira
Para que permaneçam férteis
Dentro de uma mente que se mudou
E moldou historias e passagens
E miragens
Jamais alcançadas.

Vou acima de tudo
Ser grata pelo dia que me é disposto
Pelo sol me tocando na manhã
E pela noite me convidando a viver.
Leão com ascendente em escorpião
Era tudo que deveria ser
Fogo na terra, sede por intensidade
Vontade de amor
Sina para o suporte alheio.

Vou esperar o dia
Em que as folhas serão verdes denovo
Em que a comida será cheirosa denovo
Em que o banho sirva para me limpar
E não como espaço de tempo para que eu saia a rua
E volte impregnada com as doenças
E as misérias
Que só fui capaz de ver
Quando perdi meus olhos de criança.