sexta-feira, 9 de agosto de 2013

coração bebê

ui, que saudade
de sentir saudade
daquilo que hoje
nem me lembro mais

que falta faz a falta
de cortejo, 
assunto que, num lampejo,
envaidece meus seios

nós, todos assim
eu sonhando, eles sonhando
nós dorminhados
empinhocados cima a cima.

e

que amor é esse
que raiva nem sente mais
que espera que levem e tragam
uma boa nova de paz

ui, que vontade de dizer
mamãe, quero mamar
que vontade de soltar o pé
no chão, fazer canção

batendo, batendo, batendo forte
no fundo de um coração bebê

hoje eu disse que acordei
sem amar
(mas é mentira)
só acordei conformada com o rei tempo

e nem foi conformação triste,
daquela que insiste 
mesmo quando não dói
mais

foi conformação de que o tempo
é majestoso
os dias se encarregam de lumiar
meus passos enquanto danço sem dançar

repensar depois do caos
não resolve a devastação
nem fodendo, meu caro
NEM FODENDO

e é por isso que a calma
acalma mesmo as almas mais turvas
mais desgraçadas, desordenadas
doentinhas

minha geração adoece
e só adoece
mas o tempo se arruma
o tempo organiza, anima, desliza

pensar durante o presente
no que se foi,
não faz voltar
só faz morrer

que saudade de sentir saudade
do que já nem me lembro
das casinhas geminadas
do terreno fedido
de quando não se conhecia o que era
homem
mulher

que saudade de não lembrar,
que vontade de apagar.