segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Ana, eu não gosto mais de você.

Sempre que Ana vinha com aquelas perguntas descaradamente cretinas eu pensava se ela, por um lapso de segundo qualquer, poderia se dar conta do quanto eu detestava seus interesses nada relevantes. Eu já não sabia mais se ela era relevante na minha vida, mas eu tinha uma ânsia quase jocosa quando ele me perguntava “esquerda ou direita”, “embaixo ou em cima”, “azul ou amarelo”.

Ana, saiba que nada disso importa. Meu signo não muda o fato de eu gostar de meter em você por trás... Minha camiseta de listras vermelhas não quer dizer que eu penso em te agradar ou ficar bonito para uma noite no cinema: é só mais uma noite de merda em que eu vou assistir algum filme estúpido, de qualidade duvidosa, para que você não chore pitangas demais no meu colarinho...

[Ana, eu não penso em nada. Nem em você.]

Ela queria saber a todo momento como eu passei o almoço de domingo ao lado da minha família. Queria saber se meu cachorro Brutus havia melhorado da doença no fígado,

{uma vez que nem eu, que era o dono daquele maldito labrador, lembrava que ele estava com hepatite, cirrose, sei lá}

ficava me perguntando se minha mãe já tinha entrado de férias – por que ela estava cansada, “falei com ela outro dia, Diogo. Ela disse que estava muito cansada. A Diana não anda fazendo o serviço direito em casa e as aulas na escola estão cada vez mais exaustivas. Me disse até que está pensando em passar um tempo naquele spa da Barra, que seu pai ficou nas férias passadas”.

O defeito de Ana era pensar que nos casaríamos.

Imagine se eu, no auto dos meus vinte anos, teria coragem de pensar em me casar com aquela garota que prestava vestibular e me deixava maluco dizendo que “morre se não entrar na Federal do Rio”...

Nunca pensei nisso.

Mas Ana pensava demais.

Não me deixava beber, nem fumar maconha enquanto surfava com os meus amigos. A transparência era uma qualidade totalmente afetada na nossa relação, por que ela me sufocava e as vezes eu queria matá-la. Tinha preguiça até de trepar com ela, por que sabia que depois de gozar, ao invés de deitar a bunda na cama e tirar um cochilo, ela ia querer me falar sobre amor e sobre como será a nossa vida depois que ela se mudasse de Niterói. Era um bombardeio cruel e, na verdade, eu poderia amar Ana.

Mas ela não me dava tempo para isso.

Durante todos os momentos em que eu pensava em amá-la (somente amá-la), nada menos sincero que isso, ela me vinha com indagações inúteis. Qual era o sentido em levar minha paciência até Júpiter só por que eu queria fazer um campeonato de quem goleava com a camisa do Flamengo no FIFA e arrotava mais alto com os meus amigos?

[Nunca proibi que ela fosse com aquela gangue de putas mirins no shopping comprar aqueles vestidinhos justos de vagabunda. Nunca impedi que ela passasse o dia a água e alface enquanto eu queria comer carne feito um pré-histórico.]

Ela tinha um sentimento de posse sobre mim. Me tratava feito um moleque de cuecas cagadas enquanto eu só era um moleque que pensou que ela fosse uma menina interessante.

Ana cresceu tão rápido quanto seus peitos, e, apesar de me culpar por isso, a culpa não era minha.