segunda-feira, 7 de junho de 2010

olhei para as ruas vazias da minha cidade e senti um aconchego jamais sentido. por incrível que pareça, quando eu olhei ao meu redor, tive a sensação de ser parte daquele lugar.
andei por um quarteirão até uma mercearia aqui perto. comprei um quilo de macarrão para fazer sopa de feijão e voltei andando de cabeça para baixo, olhando a minha calça de brim batendo no meu chinelo branco. era um dia frio, e além da calça eu usava um moletom cinza.
cumprimentei dois senhores que, sentados, contavam causos. um deles tinha um cachorro deitado aos seus pés e o outro usava chapéu. eu não conheço aqueles senhores, mas sempre os vejo sentados no mesmo lugar, com o mesmo chapéu e o mesmo cachorro.
ao virar uma esquina, senti uma pedra perfurar meu pé direito. de imediato pensei em chorar. eu odeio sentir dor, ainda mais quando esta é seguida de sangue. fui mancando até o portão da minha casa, e antes de tocar a campainha para que minha avó me atendesse resolvi olhar meu pé: não havia sangue, mas havia muita dor. então, toquei a campainha. minha avó custou a atender e tudo o que ouvia-se eram latidos de dois poodles que ficam no meu quintal. babie e nino.
toquei denovo temendo que os latidos pudessem ter abafado o som do aparelho. foi quando eu ouvi minha avó gritar "espera um pouco!", e nesse momento, ciente de que passaria rápidos dois minutos em frente a minha casa, olhei para o céu. desci a vista um pouco e vi vários prédios. vi algumas árvores, coqueiros... senti que tudo aquilo era meu e lembrei-me de coisas que fiz naquele pequeno centro comercial de Catanduva.
vi a cena de amigas em um apartamento (eu, jéssica, manuela e monica). vi a cena de dois irmãos nadando na piscina do clube de tenis (eu e arthur). vi a cena de uma menina comprando uma boneca barbie para ganhar no natal (eu, minha avó, meu irmão e minha mãe). vi a cena de uma classe de oitava série na missa de formatura (a minha oitava série).
percebi que não odeio integralmente essa cidade. prefiro lugares onde o fluxo de pessoas é maior, mas acho que não reclamarei com tanta frequência daqui por diante.
minha avó abiru o portão afobada e disse "obrigada, filha. coloco batata na sopa?"
"sim, vó. pode por..."

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