sábado, 29 de junho de 2013

Ale-Alejandra

Sabe... aeroporto é assim. Todo mundo corre ansioso, ninguém olha pros lados e a tensão se aloja no ambiente como se fosse mero oxigênio. 

Não foi possível saber o nome dela. 

Ainda assim, me lembro bem de como estava cercada por um careca feio - que, de minuto a minuto, olhava para todos os lados como quem não quer dividir a beleza daquela moça. Me recordo profundamente de seus olhos esbugalhados e tão caídos - dele, não dela. Era um cara feio demais para a minha princesa. Um desperdício que me fazia triste e oco, pois, apesar de tanto cabelo, eu não tinha a preciosa chilena dos meus olhos por perto. Sortudo mesmo era aquele calvo barrigudo. 

Fui assaltado numa loja da Dunkin Donuts - 12,70 por um donut e um café com leite pequeno -e, enquanto meus pés congelavam dentro de meia de lã e uma bota de couro, li pedaços do livro "10 passos para abrir uma grande empresa", e, por muito tempo, preferi olhar para o meu amor latino do que fazer qualquer coisa que não fosse olhar para meu amor latino.

Enquanto aguardava meu voo, já num estado enfadonho deplorável, quase desacreditado da vida e, pior, quase pedindo para que meu avião se espatifasse no chão assim que decolasse, eu tentava adivinhar seu nome. Buscava dar nomes de realeza a ela, mas aí voltava para a realidade leprosa onde eu encontrava, pisava firme no chão e pensava em nomes palpáveis e mais ordinários do que Irina Laureen (que nem seria nome para uma latina da gema, a não ser que seu pai fosse um americano/inglês mais da gema ainda). Qualquer nome não seria nome para ela, mas seria. Minha beleza de cabelos acobreados e olhinhos verdes. 

Comecei a pensar em nomes de origem quente, pensados enquanto se olhar o mar de Vina del Mar. Por que eramos latinos e por que ela parecia latina. Por que estávamos indo para Santiago, assim que a assistente gostosa e caolha da LAN nos permitisse. 

Nove letras galopantes saltando de meu cérebro e quase saindo de minha boca. A-L-E-J-A-N-D-R-A. Foi o nome digno que consegui inventar para a minha rainha mapuche. Uma mapuche bonita, linda, maravilhosa, que só era mapuche (um povo chileno desgraçadamente feio) por que vinha do Chile, ou o pedaço da Europa na América do Sul.

Meu estomago se encolhia e apenas se encolhia cada vez que meu olhar atravessava minhas lentes escuras para encontra-la nos braços daquele homem asqueroso. Não era possível uma princesa estar acompanhada de um ogro e, ao mesmo tempo, estar feliz. 

Ale-alejandra não sorria.

Eu era um valente de terno e gravata, mas sem coragem nenhuma. Era como não vestir cuecas.

(...)

Hoje, depois de uma semana de volta a São Paulo, encontrei minha rainha chilena no ônibus  Não era ela, mas era quase. 

Gosto de inventar vida para pessoas no busum. Essa era estudante de medicina na USP, pois desceu no ponto das Clínicas, na Doutor Arnaldo. Ela tinha quase tudo aquilo que Alejandra tinha, menos sua realeza.

Pensei em pega-la pelo braço e fazer dela a minha mulher dos sonhos, mas... não. 

Sonhos são perfeitos, seres humanos, não.

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