terça-feira, 6 de agosto de 2013

nem vento traz

se me disserem
que fiquei oculta
boto a culpa em quem
não me faz mais cercas

me ocultei como quem
oculta um assassinato
como quem esconde um corpo
depois de um copo e mais um copo
e mais outro

e aqui não digo
que foi você quem me fez
ocultar a mim
e até a nós dois

hoje somos ocultos
não conheço mais
não sei mais das horas,
nem dos dias
nem se fazes ou não fazes

deixar morrer
me faz compreender
assassinar
me faz perder
o pouco de fé
ou o pouco de realismo
ou surrealismo
que ainda havia em mim
quando
me transbordaste
sem pedir para entrar

me encheu
me transbordou

pois eu sim,
deixei a porta
aberta para que a luz entrasse
quando você disse
que traria muita luz
e depois

fechou a porta

nem vento entra mais
(nem pelo buraquinho da fechadura)
nem vento entra,
nem vento traz
novidade




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